Três PMs são condenados à prisão por tortura racial em Salvador; adolescente foi agredido e xingado por usar cabelo black power
26/11/2025
(Foto: Reprodução) Vídeo mostra truculência e racismo de policial em durante abordagem
Três policiais militares foram condenados à prisão pelo crime de tortura racial contra um adolescente em Salvador. O crime aconteceu no bairro de Paripe, em 2020, e a decisão da Justiça foi divulgada nesta quarta-feira (26), pelo Ministério Público da Bahia.
Além das condenações, os três envolvidos na ação perderam o cargo na corporação.
O crime foi filmado por moradores do bairro e o vídeo mostra que o adolescente foi agredido por um dos PMs com socos, pontapés e tapas. Ele também foi xingado de "ladrão" e "vagabundo" por usar um cabelo black power.
"Você para mim é ladrão, você é vagabundo. Olha essa desgraça desse cabelo aqui. Tire aí vá, essa desgraça desse cabelo aqui. Você é o quê? Você é trabalhador, viado? É?", gritou um dos PMs.
Os outros dois agentes envolvidos na ação faziam parte da guarnição. Eles não bateram do adolescente, mas não impediram o colega de cometer as agressões.
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Três PMs que torturaram adolescente são condenados
Após a repercussão do caso, o policial que agrediu o adolescente foi afastado das ruas e passou a cumprir expediente administrativo. A decisão valia até o fim das investigações. Os outros dois policiais que compunham a guarnição seguiram com as atividades normalmente.
Em julho de 2020, o Ministério Público da Bahia denunciou os três agentes envolvidos na ação. Cinco anos depois, a decisão da Justiça é pela prisão três envolvidos:
Soldado Laércio Santos Sacramento - autor direto das agressões
Pena: condenado a três anos e 11 meses de prisão em regime fechado
Outras consequências: perdeu o cargo e a graduação na Polícia Militar e ficou proibido de voltar ao serviço público por tempo equivalente ao dobro da pena;
Sargento Roque Anderson Dias da Rocha - não impediu as agressões
Pena: condenado a dois anos e sete meses de prisão em regime aberto
Outras consequências: perdeu o cargo e a graduação na Polícia Militar
Soldado Márcio Moraes Caldeira - condenado a dois anos e sete meses
Pena: condenado a dois anos e sete meses de prisão em regime aberto
Outras consequências: perdeu o cargo e a graduação na Polícia Militar
A defesa do soldado Laércio Santos Sacramento e do sargento Roque Anderson Dias Rocha informou, através de nota, que respeita o entendimento do juízo de primeiro grau, mas irá pedir recurso da decisão. O g1 tenta contato com a defesa do soldado Márcio Moraes Caldeira.
Vítima foi incluída em programa de proteção
Jovem foi agredido por policial no bairro de Paripe, em Salvador
Victor Silveira / TV Bahia
'Meu coração sangra', diz mãe de adolescente agredido por PM
PM presta depoimento e diz desconhecer fato
Na ocasião, o g1 entrevistou a vítima, que contou que andava na rua com amigos após passar o dia na praia, quando foi abordado pelos policiais. Durante a abordagem, ele afirmou aos agentes que era trabalhador, mas mesmo assim foi xingado e agredido.
"Disse que com aquele cabelo ali, eu não era trabalhador não. Eu gosto de ter o meu cabelo assim, é bonito. É a primeira vez que acontece isso", contou na época.
Devido a gravidade do caso, o adolescente decidiu se mudar do bairro de Paripe por medo de sofrer represálias.
Por questões de segurança, ele também foi incluído no programa de proteção a testemunhas e defensores de direitos humanos, da Secretaria Nacional de Cidadania do Ministério dos Direitos Humanos.
Três policiais são condenados após tortura de adolescente
PM disse que estava "estressado"
Moradores registraram agressão policial a jovem no subúrbio de Salvador
Reprodução/Redes sociais
De acordo com o documento do Tribunal de Justiça da Bahia, em depoimento à polícia, o soldado Laércio Santos Sacramento, responsável pelas agressões, disse que estava "estressado" no dia do crime.
Ele ainda tentou justificar as agressões ao dizer que a área era perigosa e que o adolescente resistiu a abordagem.
Os outros dois policiais da guarnição informaram que não tinham a obrigação de agir e que, no momento em que o adolescente foi agredido, não ficou claro que se tratava de uma situação de violência.
Apesar das justificativas, o juiz entendeu que o adolescente sofreu tortura motivada por questão racial.
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