Terreiro do Gantois preserva culto aos orixás na Bahia e mantém costumes e legados milenares dos povos Iorubá
26/12/2025
(Foto: Reprodução) Mãe Carmen concedeu entrevista quando completou 10 anos à frente do Gantois
O Ilé Iyá Omi Àse Iyamasé, conhecido como Terreiro do Gantois, foi fundado pela africana Maria Júlia da Conceição Nazareth, em 1849, e mantém os costumes e os legados milenares dos povos Iorubá (Abeokutá), preservando o culto aos orixás. Nos últimos 23 anos, a casa foi liderada por Mãe Carmen, ialorixá que morreu na madrugada desta sexta-feira (26), em Salvador.
O espaço sagrado segue uma tradição matriarcal com base na estrutura familiar de manutenção dos laços parentais, onde as dirigentes são sempre do sexo feminino, obedecendo aos critérios de hereditariedade e consanguinidade.
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Até então, seis mulheres já comandaram o Terreiro do Gantois, sendo cindo delas ialorixás. O nome deve-se ao antigo proprietário do terreno, o traficante de escravos belga Édouard Gantois, que arrendou as terras a Maria Júlia da Conceição Nazareth, a fundadora do espaço.
O espaço fica localizado na Rua Mãe Menininha do Gantois, no bairro da Federação, uma área alta de Salvador, cercada por um bosque de difícil acesso, que de acordo com o site do Terreiro de Gantois, protegia o local da perseguição policial existente à época.
Terreiro do Gantois durante lançamento de álbum em homenagem a Mãe Carmen
Alan Oliveira/G1
O Terreiro do Gantois é um elemento de preservação e perpetuação da memória e tradição cultural da Bahia e do Brasil. Por isso, foi considerado Área de Proteção Cultural e Paisagística pela Prefeitura de Salvador, e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Histórico e Etnográfico do Brasil.
Estrutura reflete simbologia
Terreiro de Gantois, em Salvador
Terreiro de Gantois
A estrutura do terreiro reflete uma simbologia. Há o espaço dos festejos no barracão e os assentamentos das divindades.
A natureza também é parte fundamental dessa estrutura e expressão do sagrado, além dos compartimentos domésticos e da área externa que engloba o entorno.
O Ilé Iyá Omi Asé Iyamasé é um dos poucos terreiros no Brasil que preserva na direção uma descendente direta das africanas fundadoras do primeiro candomblé de origem iorubana, seguindo a tradição matriarcal.
Mãe Carmen morreu nesta sexta-feira
Reprodução/Redes Sociais
Morte de Mãe Carmen
Morre Mãe Carmen dos Gantois
Mãe Carmen morreu na madrugada desta sexta-feira (26). Ela estava internada há duas semanas no Hospital Português, em Salvador, devido a uma forte gripe.
A ialorixá nasceu em 1926, mas só foi registrada dois anos depois. Na segunda-feira (29), completaria 99 anos.
O velório de Mãe Carmen é realizado nesta sexta-feira (26), desde as 11h30, no Terreiro de Gantois, aberto ao público. Já o sepultamento dela está marcado para 11h30 de sábado (27), no Cemitério Jardim da Saudade, na capital baiana.
Veja abaixo a linha sucessória de ialorixás:
Maria Júlia da Conceição Nazareth
Terreiro de Gantois
Maria Júlia da Conceição Nazareth (1800-1910): africana liberta que fundou, em 1849, o Terreiro do Gantois, tornando-se a sua primeira ialorixá. Casada com Francisco Nazaré (1789 – 1859), africano jeje, com quem teve 10 filhos.
Pulchéria Maria da Conceição Nazareth (1841-1918)
Terreiro de Gantois
Pulchéria Maria da Conceição Nazareth (1841-1918): foi a segunda ialorixá do terreiro, assumindo em 1910 a liderança no lugar de sua mãe, Maria Júlia. Consolidou e fortaleceu o Gantois, mostrando profundo poder de liderança, o que lhe legou a titulação de “Pulchéria de Oxossi – a grande”.
Maria Escolástica da Conceição Nazareth (1894-1986): filha de Joaquim e Maria da Glória, Maria Escolástica da Conceição Nazareth, mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois, tornou-se a terceira ialorixá do Gantois, e liderou no período de 1922 a 1986. Casada com o advogado Álvaro Macdowell de Oliveira, teve duas filhas: Cleusa e Carmen.
Maria Escolástica da Conceição Nazareth (1894-1986)
Terreiro de Gantois
Cleusa Millet: filha mais velha de Mãe Menininha, estando à frente do Gantois no período de 1989 a 1998.
Cleusa Millet
Terreiro de Gantois
Carmen Oliveira da Silva: filha mais nova de Mãe Menininha, Mãe Carmen de Oxaguian foi iniciada aos 7 anos, nasceu e cresceu dentro da casa do Candomblé, e viveu grande parte de sua vida como Iyalaxé do Gantois. Foi casada com José Zeno da Silva, tendo duas filhas Ângela Ferreira (Iyakekerê) e Neli Cristina (Iyadagan), três netos (Bruno, Leila Carla e Leandro), e duas bisnetas (Letícia e Sophia).
Carmen Oliveira da Silva
Terreiro de Gantois
Desde o ano de 2002, por determinação dos orixás, assumiu o trono do Gantois. Há 23 anos, tinha a responsabilidade de ser a guardiã de um dos pilares da espiritualidade, cultura e ancestralidade negra no Brasil e no mundo.
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