Baiano morto a tiros no RJ enviou áudios para mãe e tio pouco antes do crime; corpo será sepultado em Conceição do Almeida
13/01/2025
Francisco de Assis Almeida, de 40 anos, foi assassinado na noite de sexta-feira (10), na comunidade de Bangu. A suspeita é de que a vítima tenha sido confundida com miliciano. Baiano morava no Rio de Janeiro há um ano e quatro meses
Arquivo Pessoal
Francisco de Assis Almeida, de 40 anos, morto a tiros na comunidade do Catiri, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, enviou mensagens de áudios para a mãe e um tio horas antes do crime, avisando que estava a caminho de um retiro espiritual da igreja evangélica que frequentava. Ele foi assassinado na noite de sexta-feira (10) e será sepultado em Conceição do Almeida, no recôncavo da Bahia, onde nasceu.
De acordo com testemunhas, o baiano foi confundido por criminosos com um miliciano porque estava vestido de preto. [Veja detalhes abaixo] Quando foi alvejado, Francisco estava na Rua Capão Bonito e colocava malas no carro.
Minutos antes, ele mandou um áudio para a mãe falando que iria para um sítio, onde participaria de uma programação religiosa.
"Mainha, daqui a pouco eu tô indo para o sítio com o pessoal da igreja (...) Se der, amanhã mando mensagem para a senhora, mas não é garantido", disse Francisco para a mãe, cujo nome não foi divulgado.
“Tô indo lá para o sítio. Lá não pega sinal de telefone, nada. Aí eu vou voltar domingo. Aí domingo, duas até quatro horas já tô em casa”, afirmou a vítima a um tio, também através de áudio.
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Em entrevista ao g1, o primo de Francisco, Robson Almeida dos Anjos, contou que ele era pintor e se mudou para o RJ há pouco um ano e quatro meses, em busca de melhores oportunidades de trabalho. Há três meses, conseguiu um emprego, saiu da casa de parentes e passou a morar sozinho. Diariamente, enviava mensagens para os familiares. Na sexta, antes de sair para o compromisso no sítio, ele fez questão de se comunicar, como de costume.
Robson contou que o pintor era tranquilo e muito querido. "A gente chamava ele de Quito. Era um cara que levava a vida com leveza. Agora estamos desesperados, parece que abriu um buraco em nós", contou.
"Ele era muito amado, querido, rapaz de bem, trabalhador. Posso dizer que era um cara muito bom", afirmou uma pessoa que participaria do evento religioso e preferiu não se identificar.
O corpo de Francisco foi removido para o Instituto Médico-Legal (IML) do Centro por bombeiros do quartel de Ricardo de Albuquerque. Na manhã de sábado (11), parentes estiveram no órgão para os procedimentos legais.
A família mobilizou amigos e conhecidos para arrecadar dinheiro para trazer o corpo para a Bahia. A previsão de chegada é na quinta-feira (16). Francisco será velado na casa de oração do Hospital Municipal de Conceição do Almeida e o sepultamento vai acontecer no Cemitério Jardim da Igualdade.
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Há anos, a área onde aconteceu o crime é alvo de disputa entre uma facção criminosa e a milícia. Quem mora na região afirma que a ordem do tráfico é que os moradores não usem roupas pretas, para que não sejam confundidos com milicianos, que costumam vestir peças dessa cor nas ações praticadas na comunidade.
“Ele não era criminoso, era honesto e veio [para o Rio] a trabalho. Era um cara trabalhador, gostava de ajudar as pessoas, muito bom de coração. Como miliciano usa preto e final de semana é cobrança, sexta, eles passaram lá e atiraram”, disse uma prima de Francisco, que optou por manter a identidade preservada.
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital. Uma perícia foi realizada no local e diligências estão em andamento para apurar a autoria do crime. Ninguém foi preso, até esta segunda-feira (13).
Apenas Francisco foi baleado na ação. Uma testemunha fez imagens pouco depois do ataque e falou da determinação dos bandidos. “Mataram o homem da igreja, gente... eles estavam tudo indo pra igreja, fazer projeto. Jesus, misericórdia. Sabe que não pode andar de preto... meu Deus. Mataram o menino”, desabafou.
O crime deixou moradores da região revoltados. Um homem desabafou: “O que vai ser de nós, que nada temos a ver com essa guerra? Não pode usar preto, vermelho, capacete, entrar na rua errada, fazer sinais com as mãos”, escreveu em uma rede social.
“Eu acho que eu vou ser a primeira pessoa dando entrevista, que eu não vou pedir justiça, porque não tem. Ninguém respeita a gente. Ninguém respeita trabalhador, sai atirando, sai mandando e é isso”, falou a prima de Francisco.
Francisco de Assis era natural de Conceição do Almeida (BA)
Arquivo Pessoal
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